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Descrição botânica: Família Clusiaceae; árvore com até 30m de altura e até 2m de diâmetro de tronco; folhas simples, grandes, de textura lisa e rígidas; botões florais rosados ou brancos; frutos grandes, com 10cm de comprimento ou mais e podem pesar até 1,5kg, casca espessa e bastante dura; a polpa é esbranquiçada de sabor levemente ácido; as sementes são grandes e tem coloração marrom.

Fruto imaturo.
Onde ocorre: Planta nativa do Brasil, característica do bioma amazônico. A espécie ocorre de forma natural na Região Amazônica brasileira e nos também nos países vizinhos, caso das Guianas, Peru, Bolívia, Colômbia e Equador. 

Usos: A planta tem uso alimentício, medicinal e madeireiro. A polpa do bacuri é esbranquiçada e de sabor levemente ácido. Pode ser consumida in natura ou processada na forma de polpa para sucos, doces, sorvetes, geleias, licores, recheio de tortas e doces, biscoitos, pudins e uma infinidade de pratos, incluindo até mesmo cerveja. Das sementes é extraído o óleo, que é utilizado na medicina popular como anti-inflamatório e cicatrizante, além do uso na indústria de cosméticos. A madeira é considerada nobre.

Folhas e botões florais rosados de bacurizeiro.

Planta de bacurizeiro sob cultivo e poda para manter
o porte baixo.
Aspectos agronômicos: A produção de mudas pode ser feita por sementes, brotações que surgem nas raízes das plantas adultas ou estaquia de raízes. A enxertia é utilizada na produção de mudas de alta qualidade. É possível o uso da alporquia e estaquia de ramos como formas de propagação, mas o pegamento das mudas é inferior a 10%. Mudas clonadas iniciam a produção entre 5 a 7 anos após o plantio, já mudas oriundas de semente podem levar mais de 10 anos para frutificar. Cada planta pode produzir mais 200 frutos ao ano.
     O cultivo é feito em locais com chuvas anuais entre 1100 a 3000mm, umidade relativa acima de 70% e temperatura entre 24 a 27ºC. O solo deve ser profundo e bem drenado. As plantas respondem bem ao manejo e adubação e devem ser podadas periodicamente para manter o porte baixo e facilitar a colheita. Os cultivos ainda são em pequena escala, mas a Embrapa Amazônia Oriental possui um banco de germoplasma da espécie e avançadas pesquisas de melhoramento genético.

Cultivo de bacurizeiro em área experimental da Embrapa Amazônia Oriental, Bélem/PA.

Referências

CARVALHO, J.E.U. et al. Bacurizeiro. Embrapa Amazônia Oriental. Link. 2016.

Clusiaceae in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: Link. Acesso em: 28 Out. 2016.

HOMMA, A. CARVALHO, J.E.U.; MENEZES, A.J.E.A. Frutos da Amazônia em ascensão: bacuri. Ciência Hoje. 2010. Link


Quem já acordou cedo para colher marcela na sexta-feira santa? Eu já. Esta é uma prática comum nas comunidades de descendentes alemães e italianos do Sul do Brasil. Acredita-se que a marcela colhida nesta data específica e, antes do nascer do sol, tenha poderes de cura superiores àquelas colhidas em outras épocas do ano. A planta também é muito popular no Cerrado, onde é chamada de macela e é colhida nos meses de junho a agosto, no auge da estação seca. A planta também é chamada de macela-do-campo, macela-de-travesseiro, macelinha, carrapichinho-de-agulha e camomila nacional.

Descrição botânica: Planta da família Asteraceae, herbácea com até 1m de altura; caule, ramos e folhas cobertos por pelos esbranquiçados; folhas estreitas e alongadas, medindo 1,5cm de largura e até 15cm de comprimento; flores pequenas, amarelo-claras, em número de 5 a 10, reunidas em inflorescência terminal tipo capítulo; fruto tipo aquênio medindo até 0,5cm de comprimento.

Onde ocorre: É uma planta nativa, mas não endêmica do Brasil, onde ocorre naturalmente nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e no Nordeste (apenas no estado da Bahia). A planta pode ser encontrada na forma cultiva em quase todos os estados do País.

Usos: A marcela é planta medicinal de grande utilidade na medicina tradicional e na fitoterapia. As inflorescências colhidas e secas são utilizadas na forma de chá como sedativa, anti-inflamatória, antiespasmódica, no tratamento de desordens intestinais e dores estomacais. Estudos farmacológicos demonstraram que esta planta possui atividades antiespasmódica, anti-inflamatória, antimicrobiana, analgésica, sedativa, antisséptica e antioxidante. Também é utilizada em formulações cosméticas, a exemplo de xampus e cremes para os cabelos e hidratantes corporais. As inflorescências secas, pelo seu aroma suave e propriedades calmantes, são muito utilizadas como enchimento para travesseiros, almofadas e colchões para bebês. Os travesseirinhos de marcela são encontrados com facilidade em lojas e sites de produtos naturais.

Planta de marcela destacando-se na paisagem seca do Cerrado.
Aspectos agronômicos: A propagação da marcela pode ser feita por estaquia ou por meio de sementes. Pela facilidade de obtenção e manejo, recomenda-se optar pela propagação via sementes. A semeadura pode ser feita em bandejas contendo substrato composto de turfa, casca de arroz carbonizada e composto orgânico na proporção de 1:1:1 (v/v). Na ausência deste tipo de substrato, podem ser utilizadas outras misturas preparadas em casa, desde que sejam bem leves e proporcionem boa drenagem. A germinação ocorre em 4 a 5 dias e pode durar até 30 dias. Se necessário, efetuar o desbaste das plantas excedentes alguns dias após a germinação. As mudas estarão prontas para o cultivo em aproximadamente 70 dias. Embora a espécie adapte-se a uma variedade grande de climas e cresça naturalmente em solos degradados, quando o objetivo é comercial, o cultivo deve ser feito em solos pouco ácidos, ricos em matéria orgânica e nutrientes. Atualmente é possível efetuar o cultivo comercial, no entanto a maior parte da marcela consumida no Brasil ainda é obtida por meio do extrativismo em populações naturais.


Referências

Achyrocline in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: Link. Acesso em: 04 Ago. 2016.

BARATA, L.E.S. et al. Plantas Medicinais Brasileiras. I. Achyrocline satureioides (Lam.) DC.(Macela). Revista Fitos Eletrônica, v. 4, n. 01, p. 120-125, 2013.

MARQUES, F.C.; BARROS, I.B.I. Crescimento inicial de marcela (Achyrocline satureioides) em ambiente protegido. Ciência Rural, Santa Maria, v.31, n.3, p.517-518, 2001.

Esta semana vamos conhecer a pimenta-rosa, condimento muito apreciado na culinária regional brasileira e que a maioria das pessoas acredita ser importado. Mas a pimenta-rosa é brasileiríssima e precisa ser melhor conhecida. Seu sabor é adocicado, levemente picante e o aroma é suave, porém, bem marcante. A espécie também é conhecida pelos nomes de aroeira, aroeira-da-praia, aroeira-de-remédio, aroeira-mansa, aroeira-pimenteira e aroeira-vermelha.

Descrição botânica: Árvore da família Anacardiaceae, porte mediano, entre 5 a 10m de altura e tronco com 30 a 60cm de diâmetro, com casca espessa; as folhas são compostas, com 3 a 10 pares de folíolos, medindo entre 3 a 5cm de comprimento e suavemente aromáticas; as flores são pequenas, reunidas em panículas de formato piramidal, concentradas na porção terminal dos ramos; os frutos são do tipo drupa, de coloração avermelhada, com 4 a 5mm diâmetro e muito aromáticos.


Onde ocorre: A espécie é nativa, mas não endêmica do Brasil, típica da Mata Atlântica, ocorrendo de forma natural neste Bioma desde o Rio Grande do Sul até o Rio Grande do Norte.

Usos: A planta é utilizada como medicinal, aromática, condimentar e ornamental. Suas propriedades medicinais são bastante conhecidas da população. Estudos farmacológicos comprovam que a pimenta-rosa apresenta propriedades anti-inflamatória, cicatrizante, antioxidante, antialérgica, antibacteriana, além de potencial para controle de alguns tipos de células cancerígenas. As folhas e frutos possuem óleos essenciais, que podem ser utilizados na formulação de cosméticos e medicamentos. O uso medicinal da pimenta-rosa deve ser feito com cautela e, preferencialmente, acompanhado por profissional de saúde a fim de evitar intoxicações. A planta também pode ser utilizada em paisagismo e ornamentação, devido ao belo conjunto formado pelas folhas e frutos coloridos. Apresenta porte reduzido e aceita bem a poda, o que permite seu uso tanto na arborização urbana quanto na formação de jardins ou cercas-vivas.


A pimenta-rosa também é muito utilizada como condimento, de forma pura ou misturada com a pimenta-do-reino, conferindo aroma e sabor sofisticado a diferentes tipos de carnes, pastas, molhos e cremes. O condimento pode ser encontrado, sem muito esforço, em bons supermercados e ervanários. Particularmente, aqui na minha casa a pimenta-rosa vai muito bem para temperar frango e batata, conferindo sabor especial e exclusivo aos pratos. 


Aspectos agronômicos: Por ser uma espécie nativa e muito bem adaptada, propaga-se com relativa facilidade por meio de sementes ou estacas. A germinação ou enraizamento das estacas podem ser feitos em canteiros ou em sacos plásticos individuais contendo substrato rico em matéria orgânica e bem drenado, preferencialmente, solo de textura argilosa. As plantas devem ser mantidas à pleno sol e com regas constantes. O crescimento das mudas é rápido, atingindo 4 a 5 metros de altura aos 2 anos de idade.


Bibliografia recomendada

Anacardiaceae in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: Link. Acesso em: 04 Jun. 2016

GILBERT, B.; FAVORETO, R. Schinus terebinthifolius Raddi. Revista Fitos, 6(1), 43-56, 2011.

GOMES, L.J. et al. Pensando a biodiversidade: aroeira (Schinus terebinthifolius Raddi.). 2013. Link

O buriti é uma das plantas símbolo do Cerrado brasileiro. É a palmeira que caracteriza a paisagem das veredas, ou seja, onde tem buriti tem água e onde tem água, tem buriti. As veredas têm sido enormemente castigadas pelo avanço descontrolado da atividade humana sobre o Cerrado e, consequentemente, os buritis e toda a fauna e flora que compõe as veredas, correm sérios riscos. A perda dos buritis e das veredas significa a perda da água doce, pois um não sobrevive sem a presença do outro. O buriti é muito mais do que uma paisagem bonita, é uma fonte abundante de alimento e água para a vida do Cerrado.
 
As veredas do cerrado com os enormes buritis indicando, de longe, que ali tem água e alimento, mesmo em épocas de secas mais severas. Foto: Fabiano Bastos. Embrapa Cerrados.
Frutos maduros.
Descrição botânica: Pertence à família Arecaceae, é uma palmeira de tronco solitário, que pode medir até 20 metros de altura. As folhas possuem pecíolo longo e resistente, são arredondadas, grandes, com até 3,5 metros de comprimento. As inflorescências são ramificadas e compridas, com até 4 metros de comprimento e numerosas ráquilas que contém flores masculinas ou femininas (dioica). Os frutos, quando maduros, tem coloração marrom-avermelhada, formato globoso/alongado, com polpa alaranjada e aromática; cada fruto contém em seu interior uma amêndoa de coloração marrom e bastante oleosa.

Onde ocorre: O buriti é uma palmeira nativa do cerrado do Brasil central, ocorre naturalmente em áreas úmidas desde as savanas amazônicas até o pantanal mato-grossense. Não ocorre, de forma natural, na Região Sul do Brasil, preferindo áreas de clima mais quente e seco o ano todo.


Usos: A espécie é utilizada como alimentícia, oleaginosa, fibrosa, medicinal, ornamental e na confecção de artesanato. Como alimentícia, sua polpa macia e aromática pode ser consumida in natura, desidratada (raspas) ou processada na forma de farinha, doces, geleias e licores. A polpa é rica em carotenoides, vitaminas e sais minerais, além de possuir atividade antioxidante. O fruto é uma ótima fonte de óleo, tanto a polpa quanto a amêndoa, para uso alimentar, cosmético e medicinal. As folhas secas são utilizadas na cobertura de casas, galpões e pequenas tendas, além de fornecerem fibra para a confecção de artesanato, a exemplo de luminárias, sousplat, bolsas e cestarias em geral. O pecíolo das folhas, bastante resistente, pode ser utilizado na confecção de móveis para interiores e forrações para residências ou dependências externas, a exemplo das edículas. A planta é bastante ornamental e pode ser utilizada no paisagismo de áreas urbanas amplas, sempre associado à presença de água (margem de lagos, rios, represas, brejos).
Exemplos de pratos preparados com a polpa dos frutos do buriti: doce em barra, rosquinha, casadinho e bolo integral com geleia de buriti.
Uso do buriti no paisagismo e ornamentação de áreas urbanas. Setor Militar Urbano, Brasilia/DF.
O palácio do governo o Distrito Federal foi batizado com o nome de Palácio do Buriti, em homenagem a esta planta que é tão importante para o Cerrado. Nas imediações da sede do governo, existe um único exemplar de buriti, transplantado por ocasião da inauguração do Edifício e que permanece até hoje, embora atualmente se mantenha em pé com a ajuda de cabos de aço, em função da idade da planta e das condições desfavoráveis do local.
Palácio do Buriti, a sede do governo do Distrito Federal, Brasilia/DF.
Aspectos agronômicos: A propagação do buriti é feita exclusivamente por sementes, uma vez que a palmeira não perfilha. As sementes devem ser coletadas de frutos maduros (quando estes caírem no chão), despolpadas e germinadas em substrato arenoso, leve e mantido sempre úmido. A taxa de germinação fica entre 40 a 50%. As mudinhas estarão prontas para a repicagem aos 4 meses após a semeadura, mas o ideal é germiná-las em saquinhos individuais, o que elimina a etapa de repicagem. O crescimento das mudas é um pouco lento, mas uma vez planejada as etapas de germinação e produção, é possível se obter mudas o ano todo. A frutificação se inicia por volta dos 7 a 8 anos de idade da planta, sendo possível a colheita de frutos maduros quase o ano todo. Cada planta pode produzir até 350 kg de fruto por ano.
Planta de buriti durante a frutificação. As folhas secas, fornecem fibra para a produção de artesanato e cobertura de habitações.

Curiosidades: O buriti é uma planta dioica, ou seja, produz flores masculinas e femininas em plantas separadas. Desta forma, quando o objetivo é a produção de frutos, é necessário o plantio de várias mudas na mesma área, a fim de garantir a presença de plantas femininas e masculinas, para que haja polinização e frutificação.

Referências bibliográficas
LEITMAN, P. et al. Arecaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. 2016. Link.

MARTINS, R.C. A família Arecaceae (Palmae) no estado de Goiás: florística e etnobotânica. Tese de doutorado. Universidade de Brasília. Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Botânica. 2012. 

O baru é um fruto típico do Cerrado brasileiro, bioma do qual aprendi a gostar e que hoje é o motivo maior do meu trabalho. Estudo o Cerrado a 16 anos e, como Eng. Agrônoma, pretendo mostrar que é possível aliar a conservação da biodiversidade à geração de emprego e renda. Plantas como o baru nos mostram que essa associação não é apenas possível, mas também viável economicamente. Incluir alimentos tradicionais na nossa mesa, significa também diversificar o portfólio de produtos e as oportunidades para a agricultura, sobretudo, aquela de base familiar que corresponde hoje a mais de 80% dos produtores rurais do Brasil.
Frutos do Baru (Dipteryx alata Vog.)
Descrição botânica: Da família Fabaceae, a árvore mede até 15 metros de altura, com tronco ereto e casca de coloração cinza; as folhas são alternas, compostas pinadas com 7 a 12 folíolos; as inflorescências são tipo panícula, formadas nas axilas das folhas na porção terminal dos ramos, possui entre 200 a 1000 flores de cor predominantemente branca e uma bráctea central arroxeada, medem entre 0,8 e 1cm de comprimento; os frutos são do tipo drupa, com formato ovoide, levemente achatado e de cor marrom-claro; o endocarpo é bastante duro e protege o interior do fruto que contém a amêndoa, de cor castanho-escuro e textura lisa brilhante. A espécie também apresente outras denominações regionais, como: cumbaru, cumaru, barujo, coco-feijão, cumarurana, emburena-brava, feijão-coco e pau-cumaru.
Botões florais e flores abertas.
Árvore de baru utilizada em paisagismo.
Onde ocorre: É uma planta nativa mas não endêmica do Brasil. Típica de áreas de Cerrado, ocorrendo nos estados do PA, RO, TO, BA, MA, PI, GO, MT, MS, MG, SP, CE e no DF. Não ocorre naturalmente na região Sul do Brasil.

Usos:  Principalmente como alimentícia. A castanha extraída dos frutos do baru é muito saborosa, de aroma e sabor suaves, lembrando um pouco a castanha de caju. Pode ser consumida in natura, torrada ou como ingrediente na elaboração de pratos doces e salgados, como as paçocas (doces ou salgadas), pés-de-moleque, mousses, farinha, óleo, biscoitos, brigadeiro, sorvetes e tudo o mais que a criatividade do cheff permitir. A polpa dos frutos pode ser aproveitada para a extração de farinha, utilizada em substituição à farinha branca na panificação. A castanha de baru, além de ser um alimento muito versátil, é rica em proteínas, ácidos graxos, vitaminas e minerais essenciais para uma alimentação saudável.
            Um dos produtos mais conhecidos, preparado à base da castanha do baru, é o licor (cujo nome comercial mais famoso é Baruzetto). O sabor da bebida é delicado, adocicado e lembra a Amarula. O licor também podem ser preparado em casa e a receita completa pode ser conferida no site da Pousada Mandala, de Pirenópolis-GO (Link).
            A planta ainda possui potencial para uso como madeireira, ornamental - pela folhagem densa que produz boa sombra -  ou ainda como elemento em projetos para recuperação de áreas degradadas, em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) ou ainda em sistemas agroflorestais (SAFs).
            A castanha de baru beneficiada, ou mesmo os frutos inteiros, podem ser encontrados com facilidade nas feiras livres da região Centro-Oeste do Brasil. A castanha torrada e o licor são encontrados com facilidade também nos mercados e lojas especializadas em produtos do Cerrado. Em Brasília, pra quem vem a passeio e quer experimentar essa e outras iguarias, pode encontrar no Café ou na Feira da Torre de Televisão, bem no coração da Capital Federal.
 
A versatilidade do uso alimentício da castanha de baru. A) Castanha torrada; B) Brigadeiro de baru; C) Grissini de baru; D) Pão com farinha de jatobá e castanha de baru triturada; E) Biscoitinhos; F) Mousse salgada de baru e manjericão; G) Licor de baru.
Aspectos agronômicos: A frutificação ocorre durante a estação seca do Cerrado, com maior concentração no final desta, nos meses de outubro a novembro. As mudas são obtidas das sementes recém colhidas, quando o índice de germinação é superior a 90%. A germinação ocorre entre cinco a dez dias após a semeadura, mas pode estender-se por até 60 dias dependendo do tempo e das condições em que as sementes foram armazenadas. Preferencialmente, a germinação deve ser feita em embalagens individuais contendo substrato organoargiloso (duas partes de terra e uma de esterco de gado curtido) ou substrato comercial próprio para produção de mudas. A produção de mudas deve ser feita em ambiente sombreado, entre 30 a 50% e com irrigações frequentes. No viveiro e no campo, após o plantio, as mudas mostram um rápido crescimento e aos quatro anos já iniciam a frutificação.
 
Baru sendo comercializado na Feira do Padre (Sobradinho-DF): é possível encontrar tanto o fruto inteiro como a castanha torrada.
Agradecimento: Este post é um agradecimento especial pelo presente que recebi do sr. Alberto Mateus Pires, o Beto do Baru, um estudioso e entusiasta do Baru e do Cerrado. Muito obrigada pelo seu trabalho inspirador.

Referências Bibliográficas
AJALLA, A. et al. Produção de mudas de baru (dipteryx alata Vog.) sob três níveis de sombreamento e quatro classes texturais de solo. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, 34(3), 888-896, 2012.
AVIDOS, M.F.D.; FERREIRA, L.T. Frutos do cerrado: preservação gera muitos frutos. Revista de Biotecnologia. Disponível em Link.
CARRAZZA, L.R.; D’ÁVILA, J.C.C. Manual Tecnológico de Aproveitamento Integral do Fruto do Baru. Brasília – DF. Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN). Brasil, 2010. 56 p.; il. - (Série Manual Tecnológico).
LIMA, H.C.; LIMA, I.B. Dipteryx in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <Link>. Acesso em: 27 Nov. 2015.

PROJETO BARU. Disponível em Link.
Ipê-branco (T. roseoalba) na Universidade de Brasilia. 

Esta semana a Planta da Vez não poderia ser outra senão o Ipê-branco, que encerra a temporada de floração dos ipês em grande estilo. Conhecida também como ipê-branco-do-cerrado, pau-d’arco ou planta-do-mel, pode ser encontrada florida em várias regiões no Brasil no final da época seca, entre os meses de agosto a outubro.

Descrição botânica: O ipê-branco, da família Bignoniaceae, é uma árvore com até 25 m de altura, casca espessa e pouco fendida; folhas palmadas com 3 folíolos de 10-15 cm de comprimento; inflorescência terminal reunindo muitas flores de cor branca com uma listra amarela na parte central; os frutos são tipo cápsula (vagem) medindo entre 20-25 cm com muitas sementes aladas.
Onde ocorre: A espécie é nativa mas não endêmica do Brasil, onde pode ser encontrada naturalmente em quase todas as regiões, especialmente nos biomas Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. Pode ocorrer tanto em locais abertos, como em matas mais fechadas.

Usos: Pela beleza de sua florada, coloração azulada da folhagem e o formato piramidal da copa, é amplamente utilizado na ornamentação urbana de parques, jardins, ruas e avenidas. Normalmente, tem porte mediano e sistema radicular não muito agressivo, podendo ser cultivado próximo de áreas calçadas. É uma planta muito bem adaptada a locais secos e pedregosos, sendo uma opção para a recuperação de áreas degradadas ou como componente em sistemas agrossilvipastoris.
Propagação: Por sementes, colhidas em frutos maduros e germinadas em canteiros ou embalagens individuais contendo substrato organo-argiloso. As mudas devem ser mantidas inicialmente em local sombreado. O crescimento das mudas é rápido, em 3 a 4 meses as plantas estarão prontas para o plantio no ambiente definitivo. Podem iniciar a floração aos 3 ou 4 anos de idade.
Curiosidade: O ipê-branco, juntamente com outras espécies de ipê, é considerado Patrimônio Ecológico do Distrito Federal. Os ipês também fazem parte do Bosque dos Constituintes, uma iniciativa da Câmara dos Deputados para celebrar a Constituição de 1988, onde cada constituinte plantou uma árvore, e no caso do ipê-branco, a primeira muda foi plantada pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal Luiz Rafael Mayer.
Ipê-branco florido no campus da Universidade de Brasilia. Imagem: Weslainey Diniz. 
Agradecimento: À minha querida aluna Weslainey Diniz pela colaboração no envio de imagens.
Sobradinho - DF.

Ipê branco contrastando com a grama seca e ao fundo, a beleza da Catedral de
Brasilia - DF.

Referências bibliográficas
  1. BRASIL. Câmara dos Deputados. Ipê-branco. Disponível em: Link. 2015.
  2. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Árvores do Brasil Central: espécies da região geoeconômica de Brasília. Vol. 1. Rio de Janeiro, 2002.
  3. IBF – Instituto Brasileiro de Florestas. Ipê-branco. Disponível em: Link. Acesso em 18/09/2015.
  4. LOHMANN, L.G. Bignoniaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <Link>. Acesso em: 05 Set. 2015.
  5. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas do Brasil. Vol. 1. 5 ed. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2008.
  6. MACEDO, M.C.; ROSA, Y.B.C.; ROSA JUNIOR, E.J.; SCALON, S.P.Q.; TATARA, M.B. Produção de mudas de ipê-branco em diferentes substratos. Cerne, 17(1), 95-102, 2011.
Imagens: J. Camillo. As imagens poderão ser utilizadas desde que citada a autoria.

Tenho um carinho especial pelas palmeiras, elas foram assunto da minha tese de doutorado e também aqui no blog. São lindas, versáteis, de cultivo fácil e muito abundantes nas terras Brasilicas. Esta semana A Planta da Vez é a Pupunha, palmeira Amazônica muito apreciada na culinária regional, com frutos de sabor suave, muito saborosos e substanciosos. Quem visitar a Região Norte não pode deixar de provar, esta que é apenas uma das muitas riquezas que a Amazônia nos oferece.
           Segundo pesquisador Charles R. Clement, um estudioso das palmeiras amazônicas, a pupunha também é conhecida pelas denominações chontaduro, cachipay (Colombia), pejibaye (Costa Rica), chontaruro (Equador), pijuayo (Perú), gachipaes (Venezuela), peach palm, pewa nut (Trinidad).

Pupunheira (Bactris gasipaes). Coleção de
germoplasma da Embrapa Amazônia Oriental,
Bélem/PA.
Descrição botânica: É uma palmeira multicaule com até 20 m de altura; caules com diâmetro entre 15 a 30 cm, com numerosos espinhos finos e alongados; as folhas são reunidas no ápice do caule em número variável entre 15 a 25 e no centro da coroa foliar, as folhas jovens e tenras, formam o palmito; a inflorescência é grande e surge na axila das folhas; os frutos são multicoloridos; cada cacho podem conter entre 50 a 1000 unidades e pesar entre 1 a 25 kg; frutos maduros são recobertos por umas casca fina e fibrosa cuja cor varia entre o verde, vermelho, laranja ou amarelo e um mesocarpo (polpa) rico em amido e óleo. 

Onde ocorre: Planta de ocorrência natural na Floresta Amazônica, geralmente associada a áreas antropizadas (presença humana), tanto em terra firme quanto naquelas mais úmidas de margens de rios (Floresta pluvial). Também pode ser encontrada - em pequena quantidade espontânea ou cultivada - em algumas áreas do Cerrado.

Usos: Os frutos são consumidos, cozidos com água e sal ou na forma de farinha, na alimentação regional do Norte do Brasil. O palmito tem grande interesse comercial, sendo uma das principais fontes desta iguaria no mercado atual. Os frutos também podem ser utilizados para a alimentação animal.
          O uso alimentar das palmeiras deve ser estimulado e ampliado, pois são abundantes, de fácil cultivo e, via de regra, não produzem toxina como outros grupos de plantas. Apenas recomenda-se o cuidado de não ingerir frutos in natura (crus), pois estes contém em seu exterior cristais de oxalato de cálcio que causam irritação na pele e nas mucosas da boca. Os frutos da pupunheira devem ser cozidos em água e sal por 30 a 50 minutos para eliminar estes cristais e melhorar o sabor. Nota-se quando estão cozidos pela macies da polpa e liberação de óleo na água do cozimento. O sabor é suave, com textura que lembra um pouco o milho e a mandioca, e podem ser consumidos como aperitivo ou acompanhamento de pratos principais.
Frutos cozidos em água e sal. Iguaria facilmente encontrada nas feiras
da cidade de Belém/PA.

          A farinha obtida da polpa dos frutos pode ser utilizada na fabricação de pães e bolos, podendo ainda, ser um substituto para a farinha de milho convencional, com um sabor semelhante e vantagens nutricionais. Atualmente existem vários plantios comerciais de pupunha para a extração de palmito, que é considerado de qualidade superior àqueles obtidos da palmeira açaí (Euterpe spp.). A planta também produz perfilhos, característica pouco comum em palmeiras, e que permite a colheita de vários caules em uma mesma touceira.
        Os frutos também podem ser uma opção para a alimentação animal, na formulação de rações ou mesmo in natura como complemento da alimentação.
 
Diversidade de frutos (formas e cores).
Aspectos agronômicos: A propagação é feita por sementes, germinadas em sementeiras, em substrato composto por uma mistura de solo e material orgânico. A germinação é lenta e ocorre entre 30-120 dias. As mudas podem ser adquiridas também de viveiristas especializados. Com 6 a 8 meses as mudas estão prontas para o plantio definitivo, que deve ser feito no início da estação chuvosa. A pupunha pode ser cultivada em plantio solteiro, em sistemas agroflorestal ou agrossilvipastoril. Neste último, deve-se adotar alguns cuidados para evitar que os animais comam ou danifiquem as plantas. Para informações mais detalhadas conferir Clement (Link), CEPLAC (Link) e INPA (Link).

Curiosidades: A presença de espinhos ao longo do caule, dificulta o manejo da cultura. Porém, nos últimos anos pesquisas na área de melhoramento genético da pupunha, identificaram e selecionaram plantas sem espinho que mais tarde darão origem a cultivares comerciais. Várias Instituições de pesquisa tem trabalhado no melhoramento genético da espécie, entre elas a Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus/AM), que possui um grande banco de germoplasma de Pupunheira disponível para a pesquisa cientifica.
Banco de germoplasma de pupunheira da Embrapa Amazônia Ocidental, Rio Preto da Eva/AM.
Referências bibliográficas
CLEMENT, C.R. Introdução à pupunha. Revista da Pupunha. 2015.  Disponível em: Link
LEITMAN, P.; SOARES, K.; HENDERSON, A.; NOBLICK, L.; MARTINS, R.C. Arecaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <Link>. Acesso em: 06 Set. 2015.

Fotos: J. Camillo. As fotos podem ser utilizadas desde que respeitada a autoria.



Os mulungus são plantas da flora brasileira muito utilizados na medicina popular, e durante as próximas semanas falaremos sobre algumas delas. Estamos na época de florada dos mulungus, que além do uso medicinal, são também extremamente ornamentais. Esta semana vamos falar do mulungu mais conhecido de todos, o mulungu-vermelho ou também chamado de corticeira, maçaranduba, sananduva ou eritrina-candelabro pela disposição de suas flores que lembram as velas de um candelabro. O nome Erythrina, vem do grego erythros que significa vermelho, pela coloração das flores de várias espécies deste gênero.

Descrição botânica: É uma árvore pequena, medindo entre 2 a 3 metros de altura, muito ramificada e que perde as folhas durante a floração; o caule possui espinhos em toda sua extensão e é recoberto por uma camada de casca que vai se desprendendo lentamente, conferindo uma coloração amarronzada;  as folhas são trifolioladas e as inflorescências se formam na porção terminal dos ramos, após a quedas das folhas, dispostas em cachos; as flores tem coloração vermelha, são alongadas com até 5 cm de comprimento e em seu interior abrigam numerosos estames.
 
Mulungu (Erythrina speciosa Andrews). A) Planta inteira; B) Caule e galhos cobertos de espinhos; C) Detalhe das folhas.
Onde ocorre: É uma planta típica de áreas de brejo e margens de rios, mas também se desenvolve em terra firme. Pode ser encontrada em quase todo Brasil, sendo mais escassa na região Norte, uma vez que é planta mais comum nos biomas Cerrado e Mata Atlântica. No Cerrado floresce durante a época da seca, destacando-se na paisagem cinza própria da estação.

Flores e vagens com sementes.
Usos: Os mulungus são plantas medicinais, além de bastante ornamentais. Preparados à base de folhas, cascas, raízes, flores e frutos são utilizados na medicina popular como sedativo, tranquilizante, antitussígeno e no tratamento de doenças do sistema respiratório. Estudos farmacológicos comprovam sua eficácia medicinal, além de demonstrarem que esta espécie tem potencial medicinal também como analgésica, anti-inflamatória e antimicrobiana. Porém, deve-se alertar que o uso de qualquer planta medicinal deve ser feito sob prescrição e acompanhamento de profissionais da saúde especializados no assunto. O mulungu também possui propriedades tóxicas e poderá causar sérios danos à saúde, se for utilizado de maneira incorreta.
            O mulungu, pela conformação da planta e beleza de suas flores também é ornamental, podendo ser utilizado na ornamentação de praças, parques, jardins e avenidas. Esta espécie não possui um sistema radicular muito agressivo e por isso pode ser cultivado próximo de áreas calçadas. A planta pode ser cultivada isolada, em maciços ou compondo o jardim em conjunto com outras espécies.
 
Flores abertas e estames.
Aspectos agronômicos:  A produção de mudas é feita por sementes. Embora se utilize a propagação por estaquia para muitas espécies de mulungu, para esta não tem sido um método muito utilizado. As sementes apresentam dormência e por isso, recomenda-se efetuar imersão em água durante 24 horas antes do plantio. A germinação pode ser feita em saco plásticos contendo substrato preparado com uma mistura de solo, areia e esterco, na proporção de 3:2:1. O tempo de viveiro pode variar entre cinco e sete meses, quando as mudas podem ser transplantadas para locar definitivo. As mudas também podem ser adquiridas com facilidade em viveiros comerciais. Uma vez estabelecida, a planta não é exigente em tratos culturais, podendo-se eventualmente realizar podas de manutenção.
 
Mulungu-vermelho dos jardins da Universidade de Brasilia.
Referências bibliográficas

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Imagens: J. Camillo.
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