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11/09/2014 09:33:00 AM
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Flora do Brasil
Kielmeyera coriacea
Pau-santo
Plantas Medicinais
Plantas Ornamentais
Sobradinho - DF
Um dos objetivos deste blog, é apresentar espécies da flora brasileira desconhecidas da maioria da população. Para assim mostrar, que a riqueza de possibilidades que a nossa flora oferece, vai muito além do que imaginamos.
Esta é a minha forma de integrar o Brasil!
A planta da vez, é uma espécie nativa do Cerrado conhecida pelo nome
popular de pau-santo ou boizinho e muito utilizada na medicina tradicional. Curiosamente, é
uma planta bastante comum nos cemitérios do Distrito Federal e sua florada
coincide com a data de Finados, como se também fizesse reverencia àqueles que
ali descansam.
Planta adulta utilizada na arborização de espaços amplos ou como elemento na composição de jardins. Foto: J. Camillo. |
Descrição botânica: Pertence
à família botânica Calophyllaceae. É uma planta
de porte arbóreo, que perde as folhas durante um período do ano. Tronco tortuoso
e casca suberosa (grossa), com ramos espessos. Ao ser ferida, libera látex de
coloração amarelada. Típica de áreas mais abertas de cerrado e quando adulta,
pode medir entre 3 e 6 metros de altura. As folhas são simples e ficam
concentradas no ápice dos ramos, conferem forma e beleza a árvore. As flores possuem
pétalas alvas a levemente rosadas e estames amarelos em grande número, formando
um tufo no centro da flor. Seu fruto é seco, de cor castanho-claro e abrem-se, quando
maduros, para dispersar suas sementes, que são numerosas, amareladas, planas,
com duas alas laterais.
Botanicamente também é conhecida pelas sinonímias Kielmeyera falcata Cambess.; K. oblonga Pohl e Matinieria arbórea Vell.
Onde ocorre: A
espécie é nativa da flora do Brasil, ocorrendo na maioria dos Estados da
Federação, nas formações florestais dos biomas Cerrado e Amazônia.
Flor branca com listra rosa-claro e tufo de estames no centro. Foto: J. Camillo. |
Usos: Ornamental,
medicinal, fonte de cortiça e madeira. A espécie é bastante ornamental, o
formato da planta com galhos retorcidos, floração abundante e delicada,
conferem um aspectos muito bonito ao conjunto. Os ramos, flores e frutos são
utilizados na confecção de arranjos florais.
Sua casca, bastante suberificada pode ser fonte de
cortiça, que pode ser utilizada na indústria, como isolamento acústico,
decoração, fabricação de rolhas e até calçados. A retirada da cortiça pode ser
feita em ciclos de 5 a 6 anos e o rendimento é alto, considerado o maior entre
espécies da flora brasileira. A madeira também pode ser aproveitada em pequenas
construções.
Alguns historiadores relatam que durante a II Guerra
Mundial, esta espécie foi altamente explorada como fonte de cortiça para
produção de materiais isolantes e de linóleo (tipo de tecido impermeável),
levando a espécie ao declínio ou mesmo, extinguindo populações em determinadas
áreas.
Casca espessa, fonte de cortiça nativa. Foto: J. Camillo. |
Suas cascas são utilizadas no preparo de garrafadas, que
resulta em uma resina amarela, considerada na medicina popular como tônica e emoliente.
Também é utilizada para tratar dores de dente e como analgésico em geral. As
folhas também são consideradas como emoliente, sendo usadas em banhos. As
folhas e as cascas, após cozimento, fornecem material corante de cor
verde-claro e vermelho, respectivamente.
Estudos científicos comprovaram que as cascas de planta
tem potencial de combater a cercária de Schistosoma
mansoni, agente causador da barriga-d’água, doença que atinge milhões de crianças
nas regiões mais pobres do mundo. Ainda demonstrou efeito antifúngico sobre Candida albicans, o que indica que
poderá ser utilizado no tratamento da candidíase e efeito protetor da mucosa
gástrica. As cascas do caule e o extrato das folhas, demonstraram efeito
ansiolítico e antidepressivo, quando testados em cobaias.
Folhas com nervuras rosadas e concentradas na porção terminal dos galhos, característica marcante destas plantas. Foto: J. Camillo. |
Aspectos ecológicos e agronômicos: O
cultivo deve ser feito a pleno sol. A espécie não tolera bem competição e
sombreamento de gramíneas ou outras espécies de crescimento mais rápido,
principalmente durante o primeiro ano de estabelecimento. É uma planta bastante
resistente à seca, mesmo as mudas após o transplantio.
Um fato importante relatado por Ricardo Cardim, no site Arvores
de São Paulo (Link),
informa que, nas condições daquela cidade, a espécie frutificou no mês de
setembro e a germinação ocorreu em outubro. Por alguns meses as mudas cresciam
vigorosas, mas em março/abril elas começaram a ficar com as folhas amareladas e
definharam até desaparecerem. Escavando o vaso, observou-se que abaixo da terra
o caule a raiz permaneciam vivos e a brotação reiniciou na primavera seguinte.
Esta é uma estratégia comum em plantas do Cerrado para suportarem a época da
seca, sendo assim, é preciso prestar atenção antes de descartar o vaso e perder
as novas mudas.
Flores em pequenos cachos, na ponta dos galhos. Foto: J. Camillo. |
Propagação: A espécie
propaga-se por sementes com germinação acima de 80%, quando recém colhidas. Produz anualmente grande quantidade de sementes
viáveis. O período de maturação dos frutos pode durar até 12 meses e a liberação
das sementes ocorre na estação seca. A melhor forma de conservar as
sementes para plantios posteriores, é sob baixa temperatura (4ºC).
O substrato para a germinação pode feito à base de
vermiculita e substrato comercial (1:1) ou outro substrato comercial já
formulado, próprio para produção de mudas. A profundidade de semeadura é de
aproximadamente 1 cm.
A micropropagação também pode ser um método interessante
para propagar esta espécie. Para tanto, utiliza-se como fonte de explantes,
segmentos nodais de plântulas germinas in vitro. A germinação de sementes in
vitro, pode ser feita em meio de cultura ½MS com adição de ácido giberélico.
Limitações: Um
dos grandes limitadores do uso comercial de plantas nativas, além dos aspectos
legais, é a ausência de dados agronômicos. No caso do Pau-santo não é
diferente, muito pouco se sabe sobre esta espécie, produção de mudas, plantio,
tratos culturais ou aspectos fitossanitários. No entanto, aos poucos o seu uso
vai se difundindo e o cultivo torna-se uma imprescindível para evitar a extinção
de espécies, muitas vezes causada pela pressão extrativista.
O pau-santo está presente como elemento decorativo no jardim do Santuário da Mãe Peregrina de Schoenstatt, em Sobradinho - DF. Foto: J. Camillo. |
Referências Bibliográficas
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J.E.P. Propagação in vitro de Kielmeyera coriacea I. Efeito das diversas concentrações
combinadas de benzilaminopurina e ácido naftalenacético na multiplicação de
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2011. Disponível em Link
SANTANA, D.G. et al.
Germinação de sementes e emergência de plântulas de pau-santo: uma análise
crítica do uso de correlação. Revista brasileira de sementes, 32(3), 2010.
Muito bom o seu blog. Informações bem técnicas e detalhadas.Fotos ótimas. Parabéns!!!
ResponderExcluirObrigada David!
ResponderExcluirEssa árvore é a mesma que é utilizada para queimar como aromaterapia? E também é feita a extração do óleo? Era utilizada em rituais indígenas antigamente?
ResponderExcluirParabéns pelo blog, obrigado pela informação. Eu estou cultivando sementes dessa espécie.
Essa árvore é a mesma que é utilizada para queimar como aromaterapia? E também é feita a extração do óleo? Era utilizada em rituais indígenas antigamente?
ResponderExcluirParabéns pelo blog, obrigado pela informação. Eu estou cultivando sementes dessa espécie.
Minha avó fez uma pequena demonstração do seu forte efeito de cicatrização. Ao sofrer um corte na pele pelo espinho "arranha gato", ela passou o liquido leitoso da folha, em cerca de meia hora já havia criado casca na ferida.
ResponderExcluirOtimas informações, achei muito bonita as folhas da planta
ResponderExcluirPorque a minha resedá não da flor tenho ela mais de um ano e nada até agora de flor
ResponderExcluirA minha resedá eu nem sei a cor da flor ainda ela ainda não floresceu porque será ?
ResponderExcluirBoa tarde.gosto muito de remedios naturais.e gostaria de saber se esta arvore pau santo aqui em minas tem outro nome.porque quero fazer banho nas pernas de minha maezinha.estou sempre a procura de aprender mas e mas.e vc sabe nós esclarecer.obgd boa tard
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