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10/25/2014 10:15:00 AM
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Dolichandra unguis-cati
Flora do Brasil
Macfadyena unguis-cati
Parque dos Jequitibás
Sobradinho - DF
Unha-de-gato
No mês de outubro é bastante comum, especialmente na região central
do Brasil, observarmos esta espécie florida, em geral no alto da copa das
árvores, avistando-se de longe uma florada intensa e de coloração amarelo
forte. Trata-se da unha-de-gato, espécie nativa da flora do Brasil e que, apesar da beleza e do potencial
paisagístico, é mais reconhecia como uma espécie invasora de áreas cultivadas.
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| Estrutura de fixação em forma de "garrinha", que dá nome à espécie. |
A espécie é conhecida popularmente no Brasil com os nomes de unha-de-gato, cipó-de-gato, cipó-de-morcego ou cipó-ouro. Em inglês, recebe os
nomes de cat's-claw, cat’s-claw-creeper, catclawvine ou cat-claw-ivy. A denominação mais usual é unha-de-gato, nome atribuído pela característica da sua
estrutura de fixação, que apresenta três “garrinhas” recurvadas, semelhantes às
unhas dos gatos.
No entanto, não devemos confundir esta espécie com as
unhas-de-gato utilizadas tradicionalmente na fitoterapia da região Amazônica (Uncaria guianensis e U. tomentosa). Embora todas tenham
propriedades medicinais, ocorram nas mesmas regiões e apresentem alguma
similaridade, são espécies distintas e pertencem à famílias botânicas
diferentes.
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| Detalhes da flor de unha-de-gato. |
Descrição
botânica: A unha-de-gato D. unguis-cati, pertence à família
botânica Bignoniaceae. A planta apresenta ramos finos, com folhas oposta e de
formato ovado-acuminadas. Pode apresentar variação na morfologia foliar, ligada
provavelmente à diferenças genotípicas e plasticidade adaptativa, ou seja, as
adaptações estruturais da planta aos diferentes ambientes. Apresenta gavinha trifurcada no ápice, terminadas em garras. As flores são
amarelas e em formato campanulado, com cinco pétalas fundidas; ocorrem isoladas
ou em grupos de 2 a 3 unidades. Os frutos são cápsulas deiscentes, alongadas e
finas, contendo numerosas sementes aladas, que se dispersam com facilidade pelo
vento.
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| Folhas jovens e flores de unha de gato. |
Apresenta uma lista grande sinonímias botânicas, com pelo menos 40 nomes
diferentes, como pode ser conferido no site da Lista de Espécies da Flora do
Brasil (Link). Destas, a sinonímia mais relevante é Macfadyena unguis-cati (L.) A.H.Gentry, sendo este o nome científico mais comum encontrado na
literatura internacional.
Onde
ocorre: A espécie é considerada
nativa da flora brasileira, mas não é endêmica, ou seja, não ocorre
exclusivamente no Brasil, podendo ser encontrada em vários países da América
Latina, desde o México até a Argentina. Ocorre também nos Estados Unidos, África
do Sul, Austrália e vários outros, na condição de “invasora”, introduzida principalmente como planta ornamental. No Brasil, ocorre em todos os estados e em
diversos tipos de vegetação, desde áreas abertas alteradas (antropizadas), até
matas mais fechadas e ambientes mais conservados.
Usos: A espécie possui potencial para uso ornamental,
principalmente na decoração e cobertura de muros e paredes externas, semelhante
ao uso da hera (Hedera helix). Ainda
pode ser cultivada na forma de maciços no meio ou na bordadura do jardim. Sua
florada é curta, não mais do que uma semana. A espécie é mais cultivada no sul
do Brasil sobre cercas, pérgulas, caramanchões, muros ou árvores.
| Na época da floração, forma uma cascata de flores no alto da copa das árvores, ou sobre muros e pergolados. |
Na região Centro-Oeste do Brasil, a
espécie é pouco cultivada, em parques e jardins onde é vista, ocorre de forma
espontânea. Como exemplo, as imagens que ilustram esta publicação, foram
tiradas no Parque dos Jequitibás em Sobradinho – DF, onde as plantas ocorrem de
forma espontânea sobre as copas das árvores.
A unha de gato (D. unguis-cati) é utilizada na medicina
tradicional, não apenas no Brasil, mas também em outros países, para o
tratamento de doenças venéreas, como antiinflamatório e antimalárico. Estudo
farmacológicos indicam que a espécie tem mesmo potencial medicinal. Suas
propriedades antiinflamatória são atribuídas à presença de lapachol, um composto
que também está presente em outras Bignoniáceas, como nas cascas do Ipê-roxo (Handronathus impetiginosus) e teve
estrutura e função bastante estudadas. A espécie é rica em flavonoides e também
em ácido quinóvico, um composto que pode ser utilizado como antidoto nos
acidentes com cobras venenosas. O caule ainda pode ser fonte de tanino,
utilizado em curtumes e corante para tinturaria.
| A floração da unha-de-gato na mata do Parque dos Jequitibás, em Sobradinho - DF. |
Limitações:
A espécie produz grande quantidade de sementes
e diversas formas de propagação, características que conferem alto
potencial invasivo. Além de produzir grande quantidade de sementes viáveis,
estas se depositam no solo formando imensos bancos de sementes. Sua germinação
é regulada ao longo do tempo, garantindo assim, o recrutamento de novas plantas por longos períodos. Suas raízes apresentam crescimento agressivo e são de
difícil remoção.
Diversos países tem
relatado prejuízos em decorrência da invasão desta espécie a ecossistemas
nativos. Na Austrália, uma infestação de grandes proporções, obrigou o país a
traçar um plano de contenção para evitar maiores transtornos aos ecossistemas
locais. Na África do Sul, onde a espécie foi introduzida como planta
ornamental, também busca-se formas de controlar sua disseminação e uma das
alternativas testadas, tem sido o controle biológico.
Provavelmente uma das maiores limitações ao uso
econômico desta espécie, além do potencial invasivo, seja a ausência de
informações agronômicas, como época de plantio, produção de mudas e tratos
culturais Sabe-se que a espécie necessita de podas e uma série de cuidados para
sua manutenção, porém, os dados disponíveis são adaptações feitas a partir de
estudos com outras espécies, que nem sempre são as técnicas mais adequadas para
a unha-de-gato.
Propagação:
De fácil propagação, produz grande quantidade
de sementes viáveis. Além disso, também pode ser propagada por divisão de túberas e
estaquia de galhos.
| Ramos finos que se enredam no tronco das arvores ou em outras trepadeiras, para atingir a copa. |
Aspectos
ecológicos e agronômicos: É uma
liana, trepadeira, ou seja, vive sobre outras espécies vegetais, em geral
arbóreas. Devido à presença de uma mecha de garras, a espécie pode “escalar”
qualquer superfície, subindo a altura de 9-10 metros, sendo observada em
árvores, a mais de 15 metros de altura. Dependendo da região pode ser
considerada uma espécie de folhagem sempreverde. Mas no Cerrado, observa-se que
a espécie perde as folhas na época da seca, conferindo um tom ainda mais cinza
à paisagem.
Durante a fase de
crescimento e ascensão dos ramos, que pode corresponder a vários anos, não há
florescimento, o que só vai acontecer com a ramagem madura e pendente, na
primavera, quando forma uma vistosa cascata de flores amarelas com a ramagem
sem folhas. A produção de flores pode variar entre os anos, em um ano a florada
pode ser bastante intensa, mas no ano seguinte o número de flores pode se
reduzir drasticamente. Talvez esta variação, esteja relacionada com o regime
hídrico do ano ou com o estado nutricional da planta.
Adapta-se bem a diversos
tipos de ambientes e não exige grande quantidade de água para o seu
desenvolvimento. Pode ser cultivada em condição de pleno sol ou sombreamento
parcial. O solo dever ser bem drenado, leve e com alguma quantidade de matéria
orgânica. Entre a primavera e o final do verão, pode ser incorporado um pouco
de esterco curtido próximo à base da planta.
Quanto utilizada como planta ornamental, é
necessário efetuar poda para controlar o crescimento, que pode ser realizada no
verão, após o período de florescimento. Por ser uma espécie nativa da flora do
Brasil, é bastante adaptada à condições adversas e também à pragas e doenças.
| Exemplo de uso ornamental da unha-de-gato, recobrindo um muros externos na Califórnia - EUA. Foto: Daves Garden. (http://davesgarden.com/guides/pf/showimage/341589/#b) |
Bibliografia recomendada
BOYNE, R.L. et al. Variation in leaf morphology of the invasive cat's claw creeper Dolichandra unguis-cati (Bignoniaceae). Australian Journal of Botany, 61(6), 419-423, 2013.
DUARTE, D.S. et al. Chemical Characterization and Biological Activity of Macfadyena unguis‐cati (Bignoniaceae). Journal of pharmacy and pharmacology, 52(3), 347-352, 2000.
LOHMANN, L.G. Bignoniaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: link.
LORENZI, H.; MATOS, F.J.A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. Nova Odessa: Plantarum, 2002. 512 p.
LORENZI, H.; SOUZA, H.M. Plantas ornamentais no Brasil: arbustivas, herbáceas e trepadeiras. 2 ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2000., 1088 p.
SOUZA, L.A. et al. Morfología y anatomía del fruto en desarrollo de Macfadyenaunguis-cati (L.) A. H. Gentry, Bignoniaceae. Acta Botanica Venezuelica, 2008.
VIVIAN-SMITH, G.; PANETTA, F.D. Seedbank ecology of the invasive vine, cat’s claw creeper (Macfadyena unguis-cati (L.) Gentry). In: Proceedings of the 14th Australian Weeds Conference, eds BM Sindel and SB Johnson. 2004. p. 531-7.




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