Capim-dos-pampas (Cortaderia selloana (Schult. & Schult.f.) Asch. & Graebn.)

by 10/25/2020 12:07:00 PM 0 comentários
Jardim Botânico de Brasília, Brasília, DF

O capim-dos-pampas ou "pampas glass", sua denominação em inglês, é nativo dos pampas do Rio Grande do Sul e vem sendo bastante usado no paisagismo. Para quem, como eu, se dedica ao uso, conservação e valorização das nossas espécies nativas, sempre é muito gratificante observar essas plantas em cultivo nos jardins brasileiros e pelo mundo a fora. Assim como as bouganvilles, que já falamos aqui, o capim-dos-pampas também é adorado pelo europeus, sendo comum encontrar a planta cultivada como elemento central nos jardins, desde os vitorianos mais clássicos até os contemporâneos. 

A literatura cita ao menos duas espécies de capim-do-pampas para uso paisagístico: C. selloana e C. jubata. Observei que existe uma confusão taxonômica entre ambas pois, algumas fontes consideram C. jubata como subespécie de C. selloana, outras fontes consideram como espécies distintas. Como meu objetivo é exemplificar o uso, aqui tratarei tudo como C. selloana

Parque Amantikir, Campos do Jordão, SP.

Descrição botânica: Da família Poaceae, planta herbácea, com amplo rizoma, típico das gramíneas, e perene; de crescimento ereto, altura entre 1,5 a 2,5 m, formando grandes touceiras. As folhas são estreitas, alongadas, com borda áspera (muito cortante) e coloração que varia entre o verde claro a verde azulado quando adultas. A flores são minúsculas, numerosas e reunidas em belas inflorescências terminais plumosas, de coloração variando entre o branco (mais comum), amarelado e arroxeado (mais raras). As inflorescências aparecem com maior intensidade entre o verão e o outono, porém, em regiões mais quentes, plantas bem manejadas podem florescer quase o ano todo. 


Onde ocorre: Planta nativa do bioma Pampa do sul do Brasil, com ocorrência natural também em algumas áreas do Cerrado e da Mata Atlântica. Não é endêmica (exclusiva) do Brasil, ocorrendo também nos pampas do Uruguai e Argentina, onde é conhecida pelo nome popular de “cola de zorro”. Sabe-se que a espécie foi levada para a Europa como planta ornamental e seu cultivo é anterior a 1800, principalmente, na França e Irlanda. Acredita-se que as sementes tiveram origem no Equador, onde foi documentada a ocorrência natural desta espécie e outras do mesmo gênero. 


Usos: A planta pode ser usada no paisagismo e, na forma de planta seca, para a decoração e composição de arranjos florais. No paisagismo, é cultivada em jardins de forma isolada, como elemento central, ao longo de muros, em conjuntos ou renques, conferindo um belo aspecto ornamental, tanto pela folhagem densa e azulada (conforme a incidência de luz) quanto pela beleza da floração. Como planta seca pode ser usada na composição de grandes arranjos florais puros ou em combinação com outras flores, galhos ou folhagens. Apresenta grande durabilidade como flor seca. Na Argentina, as folhas, flores e talos são usados na medicina popular em diversas preparações com fins digestivo, laxante, diurético e hepático. Apresenta importância ecológica estratégica na recuperação de áreas degradadas do bioma Pampa. 

Whiststable, Inglaterra.

Aspectos agronômicos: Planta típica de climas frios, suporta bem as geadas, mas pode vegetar intensamente também no calor. A produção de mudas é feita facilmente o ano inteiro pela divisão de touceiras. Deve ser cultivada em solo leve, bem adubado, em sol pleno e com irrigação constante. A umidade favorece a manutenção da folhagem bonita por mais tempo. Entretanto, a planta é tolerante à grande variação climática e ambiental, adaptando-se com facilidade à condições adversas. 

Cuidados: Assim como outros capins, seu uso no paisagismo demanda cuidados com poda de formação e manutenção. As touceiras devem ser mantidas limpas e bem podadas para evitar o alojamento de bichos, especialmente as cobras. No Sul do Brasil, o capim-dos-pampas é considerado espécie invasora e erradicado das pastagens, entre outros motivos, por ser um alojamento perfeito para as cascavéis e outras cobras peçonhentas, podendo causar acidentes sérios com o gado e com humanos. Por sua característica invasora, a espécie deve ser cultivada sob contenção, ou seja, no paisagismo existem algumas barreiras mecânicas que podem ser usadas para impedir que a planta se alastre para outras áreas. A alocação do capim-dos-pampas no jardim também deve ser estrategicamente pensada. Não se recomenda o plantio em área estreita onde há circulação de pessoas e animais, pois as folhas cortantes podem causar ferimentos. Sempre opte por colocar a planta em área ampla, aberta, com largo espaço de passagens e muito sol. 

Parque Amatikir, Campos do Jordão, SP


Bibliografia recomendada 

Berkenbrock, I.A. Cortaderia selloana (capim-dos-pampas). In: Coradin, L.; Siminski, A.; Reis, A. Espécies Nativas da Flora Nativa de Valor Econômico Atual e Potencial - Plantas para o Futuro - Região Sul. 2011. https://www.mma.gov.br/publicacoes/biodiversidade/category/54-agrobiodiversidade 

Cortaderia in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB13137>. Acesso em: 25 out. 2020. 

Lorenzi, H.; Souza, H.M. Plantas ornamentais no Brasil: arbustivas, herbáceas e trepadeiras. Ed. Plantarum. 2008. 

Starr, F. et al. Cortaderia spp. 2003. Disponível em http://hear.its.hawaii.edu/Pier/pdf/pohreports/cortaderia_spp.pdf

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