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1/03/2016 02:59:00 PM
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Agronomia Universidade de Brasilia
culturas oleaginosas
Dendê
Elaeis guineensis
oil palm
palm kernel oil
palma de óleo
Quem
vai passar férias na Bahia não pode deixar de experimentar a moqueca, o
acarajé, o vatapá e uma porção de outras iguarias preparadas com azeite-de-dendê.
Então vamos conhecer o dendê, palmeira que embora não seja nativa da flora brasileira,
está intimamente ligada à história e a cultura do Brasil. A denominação genérica
dendê é exclusivamente brasileira, em outros países a planta é mais conhecida
como palma de óleo ou, em inglês, oil
palm.
As primeiras plantas de dendê foram
trazidas para o Brasil pelos escravos africanos. Os primeiros cultivos (fundo
de quintal), segundo relatos históricos, foram realizados nos estados da Bahia
e Rio de Janeiro, próximos aos locais onde chegavam as embarcações trazendo os
escravos vindos do Continente Africano. Atualmente, na costa sul do estado da
Bahia, a planta está por toda parte integrando-se perfeitamente à bela paisagem
regional.
Dendezais espontâneos (não cultivado) observados na região Sul da Bahia. |
Apesar de estar ligado a uma das
partes mais cruéis da história do Brasil, o dendê é um dos maiores símbolos da
integração entre os povos do Brasil e da África, cuja influência pode ser
notada nos diversos aspectos que compõe a sociedade brasileira atual,
sobretudo, nas festas populares e na cultura alimentar.
Dendê-africano (Elaeis guineensis Jacq.) |
Descrição
botânica: Pertence à família Arecaceae e pode atingir até 15m de
altura. Possui sistema radicular fasciculado,
caule tipo estipe, não ramificado, coroado por um tufo de folhas na extremidade;
as folhas, em número de 30-45, medem entre 5 a 9m e pesam até 8kg; o pecíolo
mede cerca de 1,5m; os folíolos podem variar em número (250 a 350); a coloração
da folhagem é verde-escuro e cada folha pode ficar aderida à planta-mãe por até
12 anos. Os frutos são arredondados, reunidos em cachos que podem pesar mais de
20kg; possuem inicialmente coloração preta, passando a alaranjado/avermelhado
conforme avança a maturação; os frutos apresentam grande variedade de formas e
tamanhos, sendo compostos basicamente pela polpa (alaranjada), endocarpo rígido
e amêndoas (entre 1 a 4/fruto). Os diferentes tipos de frutos identificam três variedades
(tipos) nesta espécie: dura, pisifera e tenera.
No Brasil existem duas espécies do gênero
Elaeis: o Elaeis guineensis (dendê-africano) e o Elaeis oleifera (dendê-americano), esta última assunto do próximo
post deste blog.
Cachos e frutos maduros de dendê. Da polpa alaranjada extrai-se o azeite de dendê e das amêndoas, obtêm-se o óleo de palmiste. |
Usos: Extração de óleo e
ornamentação. No Brasil, o azeite de dendê é uma iguaria da culinária regional,
integrando diversos pratos da culinária bahiana (caruru, vatapá, acarajé,
bobó-de-camarão, abará, entre outros). Consumido in natura, o óleo é uma boa
fonte de vitamina A e ácido oleico. O óleo também tem importância religiosa, utilizado
em rituais do candomblé. A conformação arredondada da copa e a bela folhagem,
torna a planta propicia também para a ornamentação urbana em áreas amplas.
Azeite de dendê. |
No Brasil, a forma de produção do
óleo determina produtos e usos diferenciados: o azeite de dendê encontrado nas
feiras e mercados (de coloração alaranjada), é extraído de forma totalmente artesanal
e é utilizado com fins alimentícios e ritualístico. Já o óleo de palma e o óleo
de palmiste são produtos dos cultivos comerciais, passam por diferentes formas
de processamento (refino) e são utilizados em escala industrial. Embora as
denominações genéricas sugiram coisas diferentes, todos os óleos tem origem na
mesma palmeira: o dendezeiro.
Diferentes formatos de frutos identificados no dendê-africano cultivado no Brasil. |
Aspectos agronômicos: A propagação
é feita por meio de sementes, uma vez que a palmeira não perfilha (não produz
brotações). No entanto, é recomendável adquirir sementes pré-germinadas ou
comprar as mudas de viveiristas especializados, pois as sementes possuem dormência
e o tratamento para facilitar a germinação é um tanto complicado. O cultivo é feito em solo leve, bem
drenado e fértil. A palmeira exige chuvas abundantes e bem distribuídas ao longo
do ano, temperaturas médias acima de 24°C e umidade do ar acima de 70%, condições
que limitam o cultivo comercial do dendezeiro, apenas ao Sul da Bahia e Região
Norte do Brasil. No entanto, a palmeira vegeta em diferentes climas, sendo
cultivada como planta ornamental também em outras regiões do Brasil.
Viveiro de mudas de dendezeiro mantido pela Embrapa Amazônia Ocidental, Rio Preto da Eva-AM. |
Curiosidades: O
cultivo do dendezeiro expandiu-se pelo Brasil na última década, principalmente,
como matéria-prima para a produção do biodiesel. Além disso, seu cultivo tem
sido difundido como alternativa de desenvolvimento socioeconômico regional e como
forma de recuperação e aproveitamento de áreas degradadas da região amazônica. As
pesquisas e cultivos comerciais do dendezeiro no Brasil, foram iniciadas pela
Embrapa na década de 1970, cujo trabalho, culminou com a formação de um dos maiores
bancos de germoplasma da cultura no mundo, estabelecido no município de Rio
Preto da Eva-AM. Atualmente, os cultivos comerciais estão concentrados no estado
do Pará, que é o maior produtor nacional.
Bancos de germoplasma de dendê mantidos pela Embrapa. A) Banco de germoplasma da Embrapa Amazônia Ocidental, Rio Preto da Eva - AM; B) Coleção de trabalho da Embrapa Cerrados, Planaltina - DF. |
Independente de discussões
ideológicas e ambientais (muitas das quais participo e exponho minhas convicções), o fato é que o dendezeiro fez parte da história e da construção da identidade
cultural brasileira. É uma planta belíssima e muito versátil, que aos poucos torna-se
uma fonte de renda importante para a agricultura nacional. Então, parafraseando uma matéria da Embrapa
Agroenergia: Palmas para o dendê!
Referência bibliográfica
CAMILLO, J. Diversidade genética,
conservação in vitro de germoplasma e analise do conteúdo de DNA nuclear
em palma de óleo {Elaeis guineensis Jacq. e Elaeis oleifera (Kunth)
Cortés}. Tese de doutorado – Universidade de Brasília/Faculdade de
Agronomia e Medicina Veterinária, 2012. 137 p.: il. Link
Realmente essa palmeira possui um valor econômico apreciável. No entanto, com a disseminação necessária do princípio da sustentabilidade (triple botton line) não se deve cultivar vegetais que não contribuam também para a complexificação dos ecossistemas. O corte ou queimada das espécies nativas e a imediata destruição das cadeias alimentares naturais são crimes ambientais que estão sendo incentivados em áreas tropicais para plantio dessa palmeira. Não basta atender somente as questões econômicas e sociais, deixando de lado a questão ambiental. A ganância econômica está destruindo florestas nativas e exterminando espécies frágeis que as sustentam. As florestas não são conjunto de vegetais como apregoam por aí. A fauna, os rios e o vento são indispensáveis para manter um ecossistema saudável. Mesmo que se cultivasse espécies tropicais do BRasil, não se justificaria o extermínio de milhares de outras que contribuem para os diversos serviços ecossistêmicos. A utilidade do todo deve ser maior do que a utilidade das partes.
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