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3/29/2020 03:23:00 PM
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biodiversidade
Brazilian biodiversity
Campomanesia adamantium
Campomanesia xanthocarpa
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Hoje vamos conhecer duas frutinhas deliciosas do interior do Brasil, diferentes na aparência mas muito similares no sabor: a gabiroba e a guabiroba. No sul do País vamos encontrar a guabiroba [Campomanesia xanthocarpa (Mart.) O.Berg.], árvore imponente com vistosos frutos alaranjados, de polpa suculenta e adocicada. Já no Cerrado é mais comum a gabiroba [Campomanesia adamantium (Cambess.) O.Berg.], um arbusto com frutos verde-amarelados a acinzentados, polpa aromática e muito saborosa. Independente das diferenças botânicas, ambas produzem frutos muito saborosos, verdadeiras iguarias que atraem pássaros e humanos. Uma fez parte da minha infância (guabiroba), e a outra (gabiroba), da infância dos meus filhos.
Frutos maduros e polpa de gabiroba (C. adamantium) |
Descrição botânica: Ambas pertencem à família Myrtaceae. C. xanthocarpa é uma árvore com até 15 m de altura, tronco recoberto por cascas pardacentas que se desprendem ao longo do tempo. Copa arredondada ou levemente alongada, muito ramificada; a folhagem é verde-clara e as folhas medem 3 a 7 cm de comprimento, ovaladas ou oblongas. As flores são pequenas e brancas. O fruto é uma baga amarelo-alaranjada quando madura, 2 a 3 cm de diâmetro, casca lisa e fina, polpa suculenta, doce e muito aromática, contendo numerosas sementes.
Planta de C. xanthocarpa. Foto: Flora SBS. |
Já C. adamantium é um arbusto ou subarbusto, medindo entre 30 cm a 2 m de altura, com caules amarelados e ásperos. A folhagem tem coloração avermelhada quando jovem, passando para verde-azulada na fase adulta; as folhas são simples, opostas, alongadas. As flores são pequenas, brancas e abundantes. Os frutos medem até 2 cm de diâmetro, globosos, com casca fina de coloração verde-amarelada quando maduros; a polpa é alaranjada, suculenta, doce e aromática, com numerosas sementes. Os frutos de ambas espécies apresentam pequenas pontuações na casca, que nada mais são do que as glândulas que contém óleo essencial, responsável pelo aroma intenso dos frutos.
Planta de C. adamantium |
Onde ocorrem: Ambas são nativas, porém, não endêmicas do Brasil. A gabiroba (C. adamantium) é típica do Cerrado das regiões Centro-Oeste e Sudeste. Já a guabiroba (C. xanthocarpa) é típica da Mata Atlântica do Sul e Sudeste do País. Existe uma zona de sobreposição onde seria possível encontrar as duas espécies, que são os fragmentos de Mata Atlântica das Regiões Centro-Oeste e nos fragmentos de Cerrado a sul, que podem ser encontrados até no noroeste do estado do Paraná.
Flor de gabiroba (C. adamantium), típica de myrtaceas. |
Usos: Os frutos são muito saborosos e, quando maduros, são consumidos in natura ou usados para sucos, geleias, doces, sorvetes, licores ou para aromatizar cachaça e vinho. Os frutos são ricos em vitamina C. A gabiroba possui 234mg vitamina C/100g de polpa. As cascas e folhas possuem propriedades medicinais e, juntamente com as flores, são matéria prima para a produção de óleos essenciais, usados para aromatizar bebidas e cosméticos. A guabiroba, por seu porte arbóreo elegante, pode ser usada no paisagismo e arborização de parques urbanos. Na zona rural pode recompor ou enriquecer áreas degradas de matas nativas.
Na primeira foto, os frutos alaranjados de guabiroba (C. xanthocarpa) e na segunda, frutos verde-amarelados de gabiroba (C. adamantium) |
Uma ótima experiência gustativa é provar o sorvete, o suco concentrado e o licor da guabiroba produzidos na Serra gaúcha e comercializados em feiras e mercados locais, além de deliciosos, trazem o sabor da infância no sul do Brasil. No Cerrado, os picolés e o sorvete de gabiroba são encontrados com relativa facilidade em sorveterias de várias cidades de Goiás, Distrito Federal e Minas Gerais. Minha dica é aproveitar um passeio pela bela Cidade de Goiás-GO e dar uma paradinha na praça principal, no final da tarde, para experimentar o sorvete de gabiroba da sorveteria do coreto: simplesmente perfeito!
Sorvete de polpa de guabiroba da Serra Gaúcha |
Aspectos agronômicos: A propagação é feita por sementes, retiradas de frutos maduros, após lavagem em água corrente para completa remoção da polpa. As sementes devem ser semeadas em sacos plásticos contendo substrato leve e bem drenado, em profundidade de 2 cm, com regas constantes e mantidas na sombra. A germinação pode demorar de alguns dias até semanas e pode atingir mais de 70%. Por se tratar de espécies nativas ainda pouco conhecidas e estudadas, não existem informações sobre cultivo comercial de uma ou outra espécie, de modo que tudo o que se encontra no mercado é oriundo de produção extrativista.
Bebida fermentada de guabiroba da Serra Gaúcha (esq.) e licor de gabiroba do cerrado (dir.) |
Além de escassas informações sobre produção de mudas e cultivo, um dos maiores gargalos à inserção dessas espécies no mercado é o curto período anual de frutificação e a perecibilidade dos frutos, o que obriga os produtores a colher grande quantidade de frutos de uma vez e processar no mesmo dia. Entretanto, depois de extraída a polpa, esta pode ser congelada e usada praticamente o ano todo. C. xanthocarpa floresce entre os meses de setembro e outubro, com frutos maduros durante 15 a 20 dias no mês de novembro. Já a C. adamantium floresce entre agosto a novembro, com frutos maduros de outubro a dezembro.
Bibliografia recomendada
LISBOA, G.N. et al. Campomanesia xanthocarpa (guabiroba). In: CORADIN, L.; SIMINSKI, A.; REIS, A. Espécies nativas da flora brasileira de valor econômico atual ou potencial: plantas para o futuro – Região Sul. Brasília: MMA, 2011. (Link)
PORTO, A.C. et al. Campomanesia adamantium (gabiroba). In: VIEIRA, R.F.; CAMILLO, J.; CORADIN, L. Espécies nativas da flora brasileira de valor econômico atual ou potencial : plantas para o futuro : região Centro-Oeste. Brasília, DF: MMA, 2018. (Link)
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