Flor-morcego (Tacca chantrieri André)

by 4/25/2021 10:49:00 AM 0 comentários


Conhecida pelos nomes de flor-morcego ou planta-morcego, ela vem sendo popularizada no mundo todo como planta ornamental de vaso. Sua inflorescência negra é uma raridade no mundo das flores e, por isso, muito cobiçada. Apesar de suas folhas se parecerem muito com as do lírio-da-paz (Spathiphyllum spp. - Araceae), são plantas botanicamente distintas. Entretanto, o cultivo de ambas é muito parecido: sombra, luz difusa e boa umidade. O nome “flor-morcego” se deve a aparência das flores, parecidas com grandes morcegos que ocorrem no sudeste asiático, sua região de origem. Há ainda os que a chamam de bigodes-de-tigre, porque creem que suas inflorescências refletem um sinistro rosto de tigre com longos bigodes. Ou ainda, aqueles que a chamam de flor-do-diabo, pois acreditam ver a figura do “tinhoso” refletida em suas brácteas. Verdades ou lendas, sou fascinada por plantas com história!

Descrição botânica: Da família Dioscoreaceae, erva rizomatosa, com crescimento vertical até 1m de altura. Folhas grandes, com pecíolo de até 30 cm de comprimento, formato oblongo, com nervuras bem marcadas, 20 a 60 cm de comprimento, de coloração verde escura e textura lisa. As inflorescências são cimosas, com grandes brácteas de cor marrom, quase negras, e numerosas bractéolas filiformes (semelhantes a bigodes). Cada inflorescência pode conter de 15 a 20 flores igualmente negras, com base levemente esverdeada. Cada flor é composta por seis estames bem visíveis sobre o estigma floral. Após a polinização, forma-se o fruto, do tipo cápsula, que abriga muitas sementes pequenas, inicialmente de coloração marrom claro, passando a preto quando maduras. Já existe no mercado plantas desta mesma espécie com inflorescências e flores inteiramente verdes.


Onde ocorre: Espécie nativa das florestas tropicais do sudeste asiático, englobando Índia, China, Bangladesh, Laos, Camboja, Malásia, Siri Lanka, Tailândia, Vietnam e Mianmar. Nestas regiões ocorrem pelo menos 12 espécies do gênero Tacca, quase todas ameaçadas de extinção devido à fragmentação e destruição dos seus ambientes naturais.

Usos: A flor-morcego é planta de uso milenar na medicina chinesa e tailandesa, pois os rizomas são ricos em espirostanol, uma saponina com potencial para o tratamento de leucemia, além de anti-inflamatório e no trato de males do sistema digestivo. Existem muitos estudos científicos comprovando as propriedades farmacológicas desta planta, basta uma busca simples nos portais de artigos científicos para se encontrar um mundo de informações.

No paisagismo, a flor-morcego ainda é novidade por estas terras brasílicas. Atualmente seu uso mais expressivo tem sido como planta de vaso. Mas nos países de origem, a espécie é usada também em jardins e como flor de corte, que, neste caso, precisa ser cultivada em telados com pelo menos 30% de proteção solar ou, 60 a 70%, no caso de plantas envasadas. Como planta de vaso pode compor diversos espaços e vai bem mesmo em lugares com menor intensidade de luz.


Aspectos agronômicos: A propagação é feita por sementes, divisão dos rizomas ou por cultura de tecidos, no caso da produção comercial. No ambienta natural, a espécie produz grande quantidade de sementes viáveis, que germinam com facilidade. A grande vantagem da propagação por sementes para esta espécie é que os descendentes serão praticamente iguais à planta matriz, uma vez que a autopolinização é a sua principal forma de reprodução. Para fins de conservação de germoplasma, as sementes são ortodoxas e podem ser conservadas em câmaras frias por longos períodos.

Pouco se sabe sobre a produção de mudas e o cultivo na planta em condições brasileiras, mas os artigos científicos recomendam que a germinação seja feita em condição de boa luminosidade, em solo leve e úmido (60 a 70% de umidade) e temperatura entre 25 a 30◦C. As plantas em vaso podem ser cultivadas com facilidade em ambiente com luminosidade indireta e umidade constante. Tolera bem o transplantio e as mudas retiradas dos rizomas pegam com facilidade. Minha casa funciona como um laboratório e assim que tiver minhas primeiras sementes conto a vocês como foi a germinação.


Curiosidades: Os filamentos que circundam as flores, também chamados popularmente de bigodes, são, na verdade, bractéolas que ajudam na proteção das flores e na atração de moscas, que atuam como polinizadores eventuais. Considerando o alto investimento da planta em estrutura floral, até há pouco tempo os pesquisadores achavam que as flores-morcego precisavam obrigatoriamente de polinizadores para sua reprodução. Mas estudos mostraram que a maioria das sementes foi produzida por autopolinização, ou seja, não é preciso ter planta macho e fêmea para se obter sementes. Outros estudos, porém, associaram a cor e o odor das flores, imitando material orgânico em decomposição, como sendo um atrativo que facilita a polinização cruzada feita por moscas. O que estes estudos sugerem, na verdade, é que a espécie apresenta diferentes formas de reprodução que podem se adaptar mais a uma ou outra conforme os tipos de ambientes e/ou as ameaças a que as populações naturais sejam submetidas. É ou não é uma planta fantástica!!!


Bibliografia recomendada

Baruah, S. et al. Tacca chantrieri André (Taccaceae): A beautiful ornamental flora recorded as a new for India. NeBio, 6(1), 18-20, 2015.

Couto, R.S. 2020. Taccaceae in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB232

Zhang, L. et al. Predicting mating patterns from pollination syndromes: the case of “sapromyiophily” in Tacca chantrieri (Taccaceae). American Journal of Botany, 92(3), 517-524, 2005.

Wiendi, N.M.A.; Palupi, E.R. Evaluation of horticultural traits and seed germination of Tacca chantrieri ‘André. Agriculture and Natural Resources, 51(3), 169-172, 2017.

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