Estévia [Stevia rebaudiana (Bertoni) Bertoni]

by 11/14/2021 05:32:00 PM 0 comentários

Dia desses, andando por aí, tropecei em uma plantinha redondinha muito bonita e perguntei ao meu interlocutor do que se tratava e ele prontamente me apresentou a estévia. Planta de uso consagrado na produção de adoçantes. Mas meu espanto foi descobrir que se trata de uma planta nativa do Brasil, de ocorrência comum nas margens do Rio Paraná, entre o Brasil e o Paraguai. Suas folhinhas delicadas são adocicadas, razão pela qual a espécie é também conhecida como capim-doce, erva-doce, planta-doce ou folha-doce. Planta muito conhecida e de uso medicinal entre os índios guaranis, que a chamam, entre outros nomes, de azuc-caá, uma alusão às folhas doces.

Descrição botânica: Da família Asteraceae, planta herbácea, com 40 a 80 cm de altura e bastante ramificada. As folhas são simples, com aproximadamente 1 cm de comprimento e formato oblongo e alongado. As inflorescências reúnem numerosas flores brancas pequenas, formando capítulos terminais.


Onde ocorre: Planta nativa, mas não endêmica do Brasil, de ocorrência frequente nas margens do Rio Paraná, no estado Mato Grosso do Sul e em outras regiões ao longo da fronteira com o Paraguai e Argentina. A planta foi descoberta pelo botânico suíço Moisés Santiago Bertoni, nos idos de 1887, quando uma amostra das plantas cultivadas pelos índios guaranis no Paraguai foi enviada ao jardim botânico de Kew, na Inglaterra. Cientistas alemães estudaram a composição química da espécie e caracterizaram o agente adoçante esteviosídeo (entre outros compostos), hoje amplamente conhecido e utilizado na indústria de adoçantes sintéticos em todo o mundo.


Usos: Desde o século XIX ou bem antes, as comunidades indígenas guaranis já utilizavam as folhas de estevia misturadas com as da erva-mate, para adoçar o mate, bebida tradicional do Sul do Brasil. Os extratos das folhas de estevia possuem até 300 vezes mais poder adoçante que o açúcar convencional. A estévia é cultivada e usada a mais de 50 anos no Japão e em vários países europeus para a produção de adoçantes, em substituição à sacarose de cana. Também é usada como aditivo alimentar e como adoçante na indústria de bebidas dietéticas. Por ser um adoçante natural não calórico, resulta menos efeitos colaterais, não provoca cárie dentária, é eliminado naturalmente pelo organismo e ainda pode ser uma boa fonte de carboidratos, minerais, vitaminas e aminoácidos. As comunidades tradicionais usavam a estévia também no controle do diabetes, como diurética, no controle da pressão arterial e como tônico cardíaco.

Aspectos agronômicos: A propagação é feita mais facilmente por estacas de ramos jovens. A germinação das sementes também pode ser viável, mas o grande número de sementes chochas (inviáveis) dificulta a obtenção de mudas de qualidade. Prefere solos leves, ácidos e com umidade constante. É planta de região subtropical e suporta bem o frio. Em maiores altitudes, a parte aérea pode morrer no inverno, rebrotando tão logo se restabeleçam as condições ideais. A planta cresce bem em climas quentes como os do Cerrado do interior do Brasil, sendo recomendado cultivo irrigado nos meses de seca. A poda periódica dos ramos favorece a brotação e limita o florescimento, proporcionando plantas de menor porte e maior rendimento de massa foliar.


Curiosidades: Quando leio artigos científicos sobre a estévia, me chama atenção o fato de ser uma planta nativa do Brasil, conhecida e utilizada há séculos pelos povos indígenas, descoberta e estudada pelos colonizadores europeus no século XVIII e só estudada no Brasil no final dos anos 1980, quando o mundo todo, especialmente os japoneses, já dominavam o cultivo, processamento e transformação da matéria prima. Histórias como a da estévia se repetem até hoje com várias outras plantas nativas brasileiras, entregues gratuitamente a outros países pela falta de incentivos à ciência e tecnologia no Brasil. Me pergunto até quando vamos continuar a trocar madeira por espelhinhos e negligenciar a riqueza da nossa biodiversidade nativa. Precisamos conhecer para valorizar e aproveitar mais o que é nosso!


Bibliografia recomendada

Ahmad, J. et al. Stevia rebaudiana Bertoni.: An updated review of its health benefits, industrial applications and safety. Trends in Food Science & Technology, 100, 177-189, 2020.

Lorenzi, H.; Matos, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. Ed. Plantarum. 2002.

Nakajima, J. e Gutiérrez, D.G. Stevia in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB111704

Nieda, M.M. e Henzb, S.L. InfluêncIa da Stevia rebaudiana na saúde bucal. Revista da Faculdade de Odontologia de Porto Alegre, 60(2), 2019.

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