Juçara (Euterpe edulis Mart.)

by 1/09/2021 10:39:00 AM 0 comentários

 

Você já ouviu falar no juçaí? Não? Então saiba que os frutos da juçara ou palmeira-juçara que ocorre na Mata Atlântica, são o equivalente sulista ao açaí do Norte. Pessoalmente, gosto mais do juçaí, pois acho o sabor mais suave do que o açaí comercial que conhecemos. Os sabores são mais bem comparados e apreciados quando se prova as polpas ao natural, sem adição de açúcar. A versatilidade de usos, o sabor e a composição nutricional do açaí e do juçaí são muito semelhantes: puro, gelado ou natural, doce ou salgado, com peixe, granola, farinha, sorvete ou suco, é muito bom de qualquer jeito! 

Durante muitos anos as populações naturais da palmeira juçara foram dizimadas para a extração do palmito, atividade que resulta na morte das plantas e no desaparecimento da palmeira do ambiente natural. A este fato somado à devastação da Mata Atlântica, reduzida a menos de 17% de sua cobertura original preservada (SOS Mata Atlântica, 2021), resultou no elevado risco de extinção de várias espécies, entre elas a juçara. Atualmente, essa palmeira tem seu corte proibido em ambiente natural, e o palmito nosso de cada dia já vem de fontes sustentáveis, a partir de plantios comerciais ou do manejo sustentável da pupunha (uma palmeira amazônica) e da própria juçara. Daí decorre a importância de conhecer os produtos que se consome, o consumo consciente é parte importante na conservação da nossa biodiversidade. 


Descrição botânica: Da família Arecaceae, palmeira de caule único com tronco medindo até 15 m de altura e 15 cm de diâmetro (DAP). As folhas podem medir de 2 a 2,5 m de comprimento e se desprendem com facilidade. A raque floral (cacho) mede até 70 cm de comprimento e cada ráquilas reúne numerosas flores pequenas, masculinas e femininas na mesma ráquilas. A polinização é cruzada, feita por insetos. Os frutos são drupas esféricas, de cor inicialmente verde, passando a quase pretos quando maduros. Cada cacho pode produzir, em média, 3,5 kg de frutos. 

Onde ocorre: Planta nativa, porém não endêmica do Brasil, encontrada também em países vizinhos como Bolívia e Paraguai. No Brasil a juçara pode ser encontrada em populações em áreas de Mata Atlântica desde o sul da Bahia até o Rio Grande do Sul e, nos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo em matas ciliares da bacia do Rio Paraná. 


Usos: Por muitos anos o principal uso da juçara foi a extração de palmito, de sabor adocicado, é apreciado na culinária por conter poucas fibras e ser muito macio, ideal para o consumo in natura, conservas e na elaboração de pratos diversos. O uso da polpa dos frutos como alimento não é novidade no Sul do Brasil, pois alguns registros históricos confirmam seu uso pelas comunidades locais desde o começo do século XIX. A polpa natural (sem aditivos) é uma emulsão de cor púrpura, rica em antioxidantes (antocianinas), alto valor energético e nutricional, baixo índice glicêmico (pode ser usado por diabéticos), elevadas quantidades de ácidos graxos insaturados (ômega 3) e micronutrientes. A polpa ainda é usada na produção de cosméticos, protetores solares, corantes naturais e óleo. O uso medicinal da polpa ainda está em estudo, mas a principal linha de ação aponta para a obtenção de produtos com potencial antioxidante para o tratamento de doenças cardiovasculares. A palmeira é muito elegante e pode ser usada com sucesso no paisagismo, de forma isolada, em conjuntos ou combinada com outras espécies, sua presença proporciona um visual leve e sofisticado ao jardim. 


Aspectos agronômicos: A produção de mudas é feita unicamente pela germinação de sementes, uma vez que não produz brotações. As sementes devem ser germinadas após a extração da polpa, em substrato próprio para produção de mudas. As mudas estarão prontas para o transplantio após os 6 meses de idade. O plantio deve ser feito em local semi-sombreado, com redução gradativa da sombra até os 3 anos de idade das plantas, quando poderão permanecer em sol pleno, o que favorece a produção de cachos e maturação dos frutos. A espécie requer água em grande quantidade, mantendo-se a umidade no solo de forma constante. As temperaturas médias ideais estão entre 17 a 23°C. A produção de frutos se inicia entre 6 a 10 anos após o plantio. O cultivo pode ser puro ou consorciado com outras frutíferas como a banana, por exemplo, o que otimiza o uso da terra e eleva o ganho financeiro. Cultivos menores, em quintais e hortas, são responsáveis por boa parte da produção de polpa que abastece o mercado desde tempos idos e é deles que vem muito do conhecimento que tem permitido o cultivo comercial da juçara. 


Curiosidades: O processamento dos frutos da juçara para obtenção de polpa resulta na produção de toneladas de resíduo, que nada mais é do que as sementes intactas, que têm sido usadas na produção de mudas para o repovoamento de áreas degradas e para atender à demanda de mudas para os plantios comerciais. Muito ainda há que se fazer para salvar a juçara, mas a valorização da polpa dos frutos como alimento foi um passo importante para a preservação da palmeira e da rica biodiversidade da Mata Atlântica. 



Bibliografia recomendada 

Bourscheid, K. et al. Euterpe edulis (palmito-juçara). In: Coradin, L.; Siminski, A.; Reis, A. Espécies nativas da flora brasileira de valor econômico atual ou potencial: plantas para o futuro Região Sul. MMA, 2011. https://www.gov.br/mma/pt-br/assuntos/biodiversidade/fauna-e-flora/Regiao_Sul.pdf

Guimarães, L.A.O.P.; Souza, R.G. Palmeira juçara: patrimônio natural da Mata Atlântica no Espírito Santo. 2017. https://biblioteca.incaper.es.gov.br/digital/bitstream/item/2701/1/BRT-Livro-Palmeira-Jucara-Ainfo.pdf 

Pereira, A.G. et al. Fruto de Euterpe edulis e Euterpe oleraceae: usos alimentícios, medicinais e cosméticos. In: Miranda, F.D. et al. Tópicos especiais em genética e melhoramento II. Cap. 5. 2018. 

Vianna, S.A. Euterpe in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB15712>.

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